Meu nome é José de Almeida Filho, conhecido nas rodas de capoeira como Mestre Zequinha. Sou piracicabano com muito orgulho, pratico a capoeira há 30 anos e tenho muito prazer em falar de muitos mestres que fazem parte de minha história, em especial quatro deles.
O primeiro não era mestre, mas para mim foi, pois foi o meu primeiro mestre de capoeira. Prefeito, como era chamado, dedicou mais de um ano me ensinando. Nos conhecemos numa fábrica de cadeiras em Piracicaba.SP, em 1975.
Nas minhas primeiras semanas de trabalho, minha bicicleta quebrou e tive que levar meu almoço para a fábrica. Depois do almoço fui dar um passeio e ao passar pela garagem da fábrica vi o Prefeito fazendo alguns movimentos que me encantaram, então perguntei o que ele estava fazendo e foi aí que ele me explicou que era a capoeira. Desde então começou a me ensinar todos os dias na hora do almoço, naquela mesma garagem.
Passaram-se 6 meses e o Prefeito disse que estava muito corrido, pois não estava tendo mais tempo para descansar na hora do almoço e disse que não iria mais me ensinar. Mas como eu não queria parar de aprender falei com minha mãe, D. Maria, se o Prefeito poderia me ensinar no quintal de casa, e ela aceitou. O Prefeito continuou me ensinando no quintal de casa, junto com mais outros 3 colegas, por mais ou menos 1 ano.
Um certo dia, ele me disse que como não era formado não tinha mais o que ensinar para mim e me aconselhou a procurar um tal de João. Fui atrás, mas não o encontrei e acabei conhecendo Claudival da Costa – Mestre Cosmo. Foi num desfile de Carnaval que o vi pela primeira vez, conversamos e logo comecei a praticar a capoeira com ele. Pratiquei a capoeira com Mestre Cosmo por 10 anos, me formando Professor em 1985, e durante estes anos ele me ensinou muito, me ensinou a ter respeito pelos mais velhos, bem como pelos mais novos e me mostrou os caminhos para que eu buscasse a capoeira que pratico hoje.
Em 1986 foi o meu maior contato com a Capoeira Angola, foi amor à primeira vista, quando visitei a Bahia e lá fiz um curso com um dos mais famosos mestres de Capoeira Angola, discípulo de Mestre Pastinha, o Mestre João Pequeno.
Neste mesmo ano também tive contato com um dos maiores cantadores e tocadores de berimbau da Bahia, Mestre Waldemar Rodrigues da Paixão, onde tive uma grande aula teórica, em sua própria casa em Salvador, sobre a história da capoeira, a formação de uma bateria e toques de berimbau.
Foi também em 1986, no Forte Santo Antonio, em Salvador, onde fui assistir uma aula, que tive o privilégio de conhecer o renomado Mestre Boca Rica, também discípulo do saudoso Mestre Pastinha. Mas, o maior contato com o Mestre Boca Rica foi no Mercado 7 Portas, onde todos os anos se realizava uma roda em homenagem ao aniversário do mestre. Desde então, nunca mais perdi o contato com Mestre Boca Rica, que sempre me ensinou muito, sendo meu conselheiro e me passando muita segurança, estando sempre presente em todos os meus eventos.
Em 1989 vim a conhecer um dos mais elegantes mestres de Capoeira Angola, o Mestre Lua de Bobó. O mestre tem elegância no cantar, no tocar de um berimbau e no jogo de capoeira. Quando joguei a capoeira com ele pela primeira vez, parecia que nos conhecíamos há muitos anos e depois deste jogo fui conhecer o trabalho dele lá em Salvador, no Dique do Tororó e tivemos muitos outros encontros em rodas de capoeira.
No ano de 1995 convidei o Mestre Lua de Bobó para participar de um evento que realizava em Piracicaba. Ele ficou hospedado em minha casa, nos tornamos amigos e, em 1996, quando criei a Escola de Capoeira Raiz de Angola, o convidei para ser o padrinho, e ele aceitou com muito agrado. Ele é também o Diretor Técnico da escola e vem a Piracicaba, 2 ou 3 vezes por ano, ministrar aulas teóricas e práticas e avaliar o desempenho dos alunos.
No evento realizado em Piracicaba, em 1997, o Mestre Boca Rica disse que naquele dia eu tinha me tornado mestre, pelo evento realizado e pelo jogo que fiz com os mestres presentes. Ele disse que iria me formar, e assim foi feito no ano de 2001, onde me presenteou com um diploma de mestre.
Em 2002, o Mestre Lua de Bobó realizou seu evento em Arembepe.BA, onde estavam presentes vários alunos da Escola de Capoeira Raiz de Angola e também o Professor Tim Tim de Manaus (formado por mim). Nesta data o mestre tinha preparado a minha formatura, mas por motivos econômicos, eu não pude estar presente.
No ano de 2003, em Arembepe, o Mestre Lua de Bobó realizou outro evento, oficializando a minha formatura e vim receber mais um diploma de mestre. Foram 4 dias com oficinas, palestras e rodas, sendo que no último dia foi realizado a cerimônia oficial de minha formatura.
O Mestre Lua de Bobó me apresentou a todos os mestres presentes, falou sobre o meu trabalho e o motivo pelo qual estava me formando. Depois me passou a palavra, onde fiz um juramento a todos, dizendo que jamais iria decepcioná-los e nunca deturparia a legítima Capoeira Angola.
Foi um momento de muita emoção para mim e todos os presentes. Em seguida começou a roda de formatura, onde comecei jogando com o mestre mais renomado, Mestre João Pequeno. Em seguida joguei com os seguintes mestres: Mestre Bigodinho, Mestre Brandão, Mestre Pelé do Tonél, Mestre Pelé da Bomba, Mestre Zé Pretinho, Mestre Ciro, Mestre Almir, Mestre Faísca, Mestre Pedra e Mestre Orelha. Também estavam presentes vários Contra Mestres, Professores, entre eles o Professor Lampião (formado por mim) e Trenéis de vários lugares do Brasil e do Mundo.
Em todos esses anos praticando a capoeira, conheci muitos mestres famosos representantes da chamada “velha guarda” da Bahia, além de outros mais jovens. Entre estes capoeiristas posso citar: Mestre João Pequeno, Mestre Waldemar da Paixão, Mestre Canjiquinha, Mestre Paulo dos Anjos, Mestre Curió, Mestre Felipe de Santo Amaro, Mestre Ferreirinha de Santo Amaro, Mestre Brandão, Mestre Papo Amarelo, Mestre Bobó, Mestre Boca Rica, Mestre Lua de Bobó, Mestre Morais, Mestre Renê, Mestre Augusto, Mestre Vermelho Boxéu, Mestre Vermelho 27, Mestre Nenél, Mestre Martinho, Mestre Lua Rasta, Mestre Gato Preto, Mestre Barba Branca, Mestre Mário Bom Cabrito, Mestre Dois de Ouro, Mestre Jaime de Mar Grande, Mestre Ananias, Mestre Pessoa, Mestre Virgílio, Mestre Gerson Quadrado, Dona Maria Romélia – a Dona Lice (esposa de Mestre Pastinha), Mestre No, Mestre Mala, Mestre Gildo Alfinete, Mestre Cobrinha Mansa, Mestre Valmir, Mestre Fernando, Mestre Diogo, Mestre Jogo de Dentro, Mestre Cláudio de Feira de Santana, Mestre Macaco de Santo Amaro, e muitos outros que não me recordo neste momento, todos baianos e de muita tradição na capoeira. Devo muito a todos eles, pois me ajudaram muito na minha formação como Angoleiro.
Ainda nos dias de hoje os ideais de Zumbi de igualdade e liberdade são objetivos a serem alcançados, já que não vivemos em uma sociedade justa, com oportunidades iguais.
Neste atual contexto social, a capoeira - e de maneira especial a Capoeira Angola, por deter esse poder de anular diferenças é uma das poucas atividades que homens e mulheres, pobres e ricos, pretos e brancos, doutores e analfabetos convivem em harmonia e igualdade.
Mestre Zequinha realiza seu trabalho com a Capoeira Angola em Piracicaba, estado de São Paulo. Iniciou os seus aprendizados na arte da capoeira em 1975, sendo formado professor em 1985 e recebendo o título de mestre em duas ocasiões diferentes, em 2001 pelas mãos de Mestre Boca Rica e em 2002, em um grande evento em Arembepe.BA, pelo Mestre Lua de Bobó.
Com o modismo tomando conta da capoeira e a crescente proliferação de pessoas preocupadas apenas com o desenvolvimento de determinados elementos desta arte, acabam por reduzir a capoeira cada vez mais a uma mera atividade física.
Mestre Zequinha, depois de muitas pesquisas, com o pensamento de atuar na preservação dos rituais, costumes, tradições, ritmos e cantinelas, fundou em 1996 a Escola de Capoeira Raiz de Angola, com o objetivo de transmitir os valores culturais, as origens históricas, os verdadeiros significados e os conhecimentos técnicos e filosóficos da Capoeira Angola, disponibilizando a qualquer indivíduo o acesso a um rico universo cultural formado pela luta, dança, música e pela história que tanto se mistura com a de nosso país.
Em 2001, com a evolução natural dos trabalhos, a Escola de Capoeira Raiz de Angola realizou a primeira formatura de professores, com a formação do Professor Tim Tim e do Professor Lampião. Em 2003, após retomar um projeto muito antigo, Mestre Zequinha e a escola conseguiram realizar a gravação do primeiro CD de Capoeira Angola, com músicas inéditas.
Procurando preservar a história e a tradição desta arte, a escola vem atuando em diversos setores da sociedade piracicabana, se destacando na realização de eventos culturais, como o EXPARCUN (Exposição de Arte e Cultura Negra), a Semana de Conscientização e Valorização da Raça Negra, a Semana Cultural da ESALQ-USP, a FECONEZU, além dos Encontros Nacionais de Capoeira Angola, que tem o intuito de difundir cada vez mais a tradição da Capoeira Angola entre os piracicabanos e toda a região.
Além disso, Mestre Zequinha, juntamente com seus graduados, realizam projetos sociais que envolvem o ensino da capoeira em centros comunitários, universidades, associações de bairros, atuando com isto na formação física, social e cultural do cidadão.
O próximo sonho, meta ainda a ser conquistada, é a de dar um endereço fixo, um espaço próprio para a Escola de Capoeira Raiz de Angola, que funcionará como um local que possa formar verdadeiros angoleiros e com isso manter viva as tradições da Capoeira Angola.
contato:EMAIL:capoeiraraizdeangola@yahoo.com.br
CONHECI O MESTRE ZEQUINHA NO EVENTO DO MESTRE ANTONIO NO RIO DE JANEIRO,GRANDE PESSOA,MESTRE DE PRIMEIRA LINHA,PARABENS PELO BELO TRABALHO COM A CAPOEIRA ANGOLA AXÉ...
ResponderExcluirConheci o Mestre Zequinha em novembro de 2012 e de lá para cá nossa amizade vem crescendo e quem ainda não o conhece, não perca a oportunidade, pois além de ser um grande Mestre de Capoeira Angola, é antes um grande ser humano e amigo!
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